Bancos de investimento, sociedades de advogados, consultoras e grupos de ‘private equity’ comentam a evolução do mercado de M&A em Portugal nos últimos meses e fazem previsões para os sectores com mais dinâmica.
Gustavo Ordonhas Oliveira, Sócio da SRS Legal:
“O ano de 2023 será um ano desafiante para a actividade de M&A em todo o globo, e Portugal não será excepção. Por um lado, as empresas atravessam um cenário de incerteza gerada pelo aumento da inflação e das taxas de juro, a que acresce o risco geopolítico em diversas regiões do globo (em especial a guerra na Ucrânia) e todos os efeitos colaterais que daí decorrem para a economia. Por outro lado, existem factores positivos que permitem encarar o resto do ano com algum optimismo neste sector, nomeadamente o crescimento da economia, o estímulo económico decorrente da aplicação do PRR e fundos europeus em diversos sectores da economia, a elevada liquidez que permanece disponível a aguardar alocação em investimentos e aquisições (dry powder) (que continua a atingir números recorde em todo o mundo) e os inevitáveis processos de digitalização da economia que se encontram em curso.
Sem prejuízo de uma desaceleração inicial por força de um compasso de espera natural dos players para obter uma visão mais clara sobre a evolução da inflação, taxas de juro e níveis de consumo e o seu impacto nas avaliações das empresas, esperamos uma aceleração da actividade de M&A no decurso de 2023 e boas oportunidades de investimento para os players que tenham uma estratégia bem definida e capacidade e agilidade de execução das transacções – designadamente em virtude da redefinição das avaliações das empresas, menor concorrência por transacções e novos activos que poderão estar no mercado (incluindo activos provenientes de situações difíceis ou distress).
Neste contexto, deveremos assistir a transacções de menor dimensão no sector das PME no âmbito de estratégias de consolidação empresarial (nomeadamente aquisições para o core business das empresas) ou de reestruturação e carve-out de activos.
Estas transacções deverão ocorrer particularmente em sectores que têm demonstrado maior potencial de crescimento, nomeadamente Tecnologia (processos de transição digital em variados sectores e indústrias, logística, mobilidade, cibersegurança, automação, inteligência artificial, activos digitais), sector em que se deverá igualmente continuar a assistir a um forte crescimento e internacionalização das startups nacionais e investimento de venture capital, Energia (energias renováveis, em especial projectos solares, e transição energética), Saúde (processos de consolidação e digitalização) e Imobiliário (comercial, logística e hospitality).
Por fim, cremos ser igualmente expectável um aumento de operações de reestruturação e special situations que poderão chegar ao mercado em virtude do impacto do aumento de custos de financiamento e dificuldades de liquidez em determinadas empresas que estejam mais expostas a este risco.”